quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Poema: Manifesto!

Da mais bela colheita
De bela só os verdes dos cafezais,
O café foi servido senhora,
Meu sangue servido também, deseja algo mais?
Volta pra senzala, preta lavar meus panos brancos,
Em prantos grita a mãe, NEGRA!
Seu filho recém nascido acaba de juntar-se ao bando!
Criança feia, seca!
Vê se afina essa narina,
Dimimui esses lábios,
Prancha esse cabelo,
Sua mula, mulato!
Ta vendo esse espelho?
Se olha, se discrimina,
Se desvaloriza, se humilha, se abomina, se odeie...
Queira ser eu,
Queira ser como eu,
Queira ser branca!
Tua fé não é santa
Teu santo endemoniado,
Por onde tu andas,
Capitães do mato,
Parado!
Mãos pro alto,
Respeita o preto que se acha claro,
Pardos?
Alvos?
E no fim todos eles alvejados.
É um tipo de colorismo imposto,
Distribui ai 1 ou 2 a mais privilégios
Pois a guerra come solta  aqui dentro,
E até quando me aceito,
Marketing encima do empoderamento,
Ta vendo esse espelho?
Queira ser eu, queira ser como eu! Queira ser branca,
O mercado negro rola solto,
E nas prateleiras só bonecas brancas
A mãe morreu na senzala,
A neta nasceu na favela,
Desde pequena sonhava,
- Hey, não sonha não,
Nunca vai ser atriz de novela,
Pega essa guia, pega seu irmão,
Aprende a contar desde cedo e vai vender agua no busão,
A criança nem brincava, como todas da periferia,
De 10 anos já tinha 19,
Trabalhava desdos 14
E desdos 12 sonhar já não podia,
Acorda, hoje é o dia,
Põe a tristeza em anexo,
A revolta do preto retona,
Desde 1500 pretos fazendo protesto.
.
- Jordan Vilas Boas